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Nação por Herança

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“Eu me retiro para a Europa: assim é necessário para que o Brasil sossegue, o que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz.”

Foi assim que D. Pedro I, “O Monarca Liberal”, abdicou do Trono brasileiro em favor de seu filho, Dom Pedro de Alcântara, à época com apenas cinco anos de idade. O “Imperador Menino”. Se antes o Imperador gozava da alcunha “Defensor Perpétuo do Brasil”, em seus últimos dias como monarca, era chamado de “Tirano” pelos brasileiros nativos. Vários foram os motivos que levaram a esse cenário. Talvez a principal seja a sua ligação direta com Portugal, na qual, desde a independência, sempre foi mal vista pelos brasileiros e pela inflada imprensa oposicionista que não suportava mais um português como Imperador. A somatória desses problemas culminou na guerra entre nativistas e portugueses, no dia 7 de abril de 1831, dando fim no seu reinado.

A abdicação do primeiro Imperador do Brasil, D. Pedro I.A abdicação do primeiro Imperador do Brasil, D. Pedro I. Acervo Biblioteca Nacional.

Em 1825 estourou a Guerra da Cisplatina. Um conflito armado entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata que se encerrou com a derrota brasileira e a independência da República Oriental do Uruguai. Essa guerra acabou gerando despesas indesejadas para o cofre da recém-formada nação brasileira. Este fato desencadeou perda de popularidade de D. Pedro I em relação à sociedade da época.

Essa popularidade ficaria ainda mais abalada com a Questão Dinástica Portuguesa que começou antes mesmo da morte do rei D. João VI, pois estava posto à mesa o problema do herdeiro do trono português ser o Imperador do Brasil.  Os brasileiros temiam uma reunificação com a antiga metrópole, vendo, então, a possibilidade de a independência estar ameaçada. No dia 10 de março de 1826, D. João VI morre. A Questão Dinástica voltava à tona e, agora, tendo que ser resolvida. De um lado, D. Pedro e de outro D. Miguel. O primeiro de caráter liberal, o segundo absolutista. Tudo pareceu acordado quando D. Pedro abdicou da Coroa lusa em favor de sua filha, D. Maria da Glória (que por ter nascido antes da Independência do Brasil, tinha nacionalidade portuguesa, diferentemente de seu irmão mais novo, D. Pedro de Alcântara – futuro D. Pedro II – na qual havia nascido pós independência, portanto, era brasileiro nato). Tendo-se acordado que D. Miguel casaria com a sobrinha e que seria o regente até a maioridade da rainha, o caso parecia resolvido, até D. Miguel desfazer o acordo e tomar a Coroa portuguesa para si. Começava então uma longa disputa pelo trono português. Essa divisão de atenções entre Brasil e Portugal incomodou os nativistas, que exigiam do Imperador outra atitude.

À esquerda: D. Miguel de Bragança (1808-1866), enquanto Infante de Portugal exilado em Viena, 1827, acervo Palácio Nacional de Queluz. À direita: Retrato de Maria II de Portugal, circa 1837, Museu Imperial do Rio de JaneiroÀ esquerda: D. Miguel de Bragança (1808-1866), enquanto Infante de Portugal exilado em Viena, 1827, acervo Palácio Nacional de Queluz. À direita: Retrato de Maria II de Portugal, circa 1837, Museu Imperial do Rio de Janeiro.

O assassinato de Badaró e o papel da imprensa

O escritor Paulo Rezzutti, em seu livro “Dom Pedro: a história não contada” conta que o ex-ministro das Finanças, o Marques de Barbacena, irritado pela sua recente demissão, afirmou que sua queda fora armada por conselheiros secretos (portugueses) que o haviam envenenado junto ao imperador. Ainda segundo Rezzutti, “todos os ministros caídos, desde os Andrada, sempre culparam alguém – nunca haviam feito nada de errado”. O bode expiatório da vez era o tal “gabinete secreto”, na qual, a imprensa nativista e oposicionista pegou como verdadeiro cavalo de batalha, chegando a publicar diversas notícias falsas.

Com a queda do rei Carlos X na França, a onda xenofóbica atinge seu ápice e verbera cada vez mais na figura do imperador nascido em Portugal. Agora “qualquer português era suspeito de qualquer coisa” e os jornais culpavam-lhes por maquinarem contra o Brasil, alegando que apoiariam d. Pedro numa prensa suspensão da Constituição e numa suposta reunião do país com Portugal. Foi nesse cenário histérico que ocorre o assassinato do jornalista italiano Líbero Badaró.

À Esquerda: Carlos X da França. Ao Centro: Retrato de Felisberto Caldeira Brandt (Marquês de Barbacena), À direita: Líbero Badaró por Tancredo do AmaralÀ Esquerda: Carlos X da França. Ao Centro: Retrato de Felisberto Caldeira Brandt (Marquês de Barbacena), À direita: Líbero Badaró por Tancredo do Amaral.

Giovanni Battista Líbero Badaró foi um jornalista e médico italiano radicado no Brasil, que fundou o jornal O Observador Constitucional, em 1829, que não poupava o governo, sobretudo Dom Pedro I. Por causa de suas ideias, Badaró sofria perseguições de grupos contrários a ele. Em um desses casos, um atentado foi realizado em 1830 e o jornalista acabou perdendo a vida. O principal responsável pelo atentado foi um alemão chamado Stock, mas os opositores não perderiam a oportunidade para tentar incriminar o Imperador, que era alvo de críticas do italiano.

Finalmente o estopim para a abdicação aconteceu no mês de março de 1831. O Imperador havia feito uma viagem à Província de Minas Gerais e grupos contrários ao governo monárquico protestaram. Na volta para o Rio de Janeiro, um grupo de portugueses decidiu fazer uma festa para recepcionar o Imperador, mas um outro grupo de brasileiros descontentes com o governo acabou entrando em confronto. Os brasileiros foram então expulsos pelos portugueses abaixo de garrafadas, atiradas pelos portugueses do alto dos sobrados. esse episódio enfureceu ainda mais oposicionistas.

Foi no dia 7 de abril que o Imperador, após mais uma revolta provocada por uma troca de  ministros, decide abdicar e partir para Portugal, afim de acalmar os ânimos dos nativistas. Para os embaixadores, argumentou que todos os que nasceram no Brasil estavam no Campo de Santana, contra ele. Não o queriam como governante porque era português e, independente do que fizesse, sempre tentariam se livrar dele de alguma maneira. Dom Pedro acreditava que seu filho levava vantagem por ser brasileiro nato. Como disse em carta de despedida ao seu filho e herdeiro: “Eu me retiro para a Europa: assim é necessário para que o Brasil sossegue, o que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz.”

Aclamação do jovem Pedro II como Imperador do Brasil, após a Abdicação de D. Pedro I, a 9 de abril de 1831. João Baptiste Debret, 1831

A abdicação de D. Pedro I pegou muitos de surpresa e, conta-se, no cais, ao verem a nau inglesa Warspite partindo para a Europa com o primeiro imperador do Brasil, ouviram-se brados de “Viva D. Pedro II”. Naquele momento inicia-se o reinado de um jovem monarca que duraria 58 anos. A carta de despedida do pai para o filho revela as emoções de um homem comum e de um grande Estadista ao mesmo tempo.

“Meu querido filho, e meu imperador. Muito lhe agradeço a carta que me escreveu, eu mal a pude ler porque as lágrimas eram tantas que me impediam a ver; agora que me acho, apesar de tudo, um pouco mais descansado, faço esta para lhe agradecer a sua, e para certificar-lhe que enquanto vida tiver as saudades jamais se extinguirão em meu dilacerado coração. Deixar filhos, pátria e amigos, não pode haver maior sacrifício; mas levar a honra ilibada, não pode haver maior glória. Lembre-se sempre de seu pai, ame a sua e a minha pátria, siga os conselhos que lhe derem aqueles que cuidarem na sua educação, e conte que o mundo o há de admirar, e que me hei de encher de ufania por ter um filho digno da pátria. Eu me retiro para a Europa: assim é necessário para que o Brasil sossegue, o que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz. Adeus, meu amado filho, receba a benção de seu pai que se retira saudoso e sem mais esperanças de o ver.” D. Pedro de Alcântara, Bordo da Nau Warspite, 12 de abril de 1831.

Não foram apenas as palavras de D. Pedro I que emocionaram aos conhecedores da História, mas também as palavras de D. Amélia, segunda Imperatriz do Brasil e madrasta do Menino Imperador. Sobre este momento crucial de nossa História, escreveu D. Amélia:

“Rio de Janeiro, [abril de 1831]. Meu filho do coração e meu imperador, Adeus, menino querido, delícias de minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado. Adeus para sempre. Quanto és formoso nesse teu repouso! Meus olhos choro­sos não se puderam furtar de te contemplar! A majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua fronte de um resplendor misterioso que fascina. És o espetáculo mais tocante que a terra pode oferecer! Quanta grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti, criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo, e tu, que comandas exércitos e reges um Império, ainda careces de todos os desvelos e carinhos de mãe.Ah(!), querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te tivesse concebido, nenhuma força te arran­caria dos meus braços! Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me perten­ces senão pelo amor que dediquei a teu augusto pai. Ape­nas sou tua madrasta, embora te queira como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-imperador no seu exílio, através os mares, em terras estranhas… Adeus, pois, para sempre! Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração. Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor da felicidade de vosso país e de vosso povo: ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no Paraíso. Eu vo-lo entrego: agora sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura. Dorme criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção, partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos… senão em sonhos.Brasileiros! Eu vos conjuro que o não acordeis antes que me retire. Adeus, órfão-imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer. Adeus…”

Retrato de Dom Pedro I,1830, Museu Imperial , Dona Amélia de Leuchtenberg, 1837 Museu Imperial e Dom Pedro II, 1837, Museu Nacional de Belas Artes.

Ambas as cartas, bastante emotivas, profetizavam a grandeza da jovem criança. A educação por D. Pedro II recebida era digna de quem ele acabou se tornando.Como o pai do pequeno Imperador não tinha recebido à risca uma educação principesca, fato por ele mesmo reconhecido em cartas e conversas. Ao seu filho, logo após a abdicação, disse D. Pedro: “Tenho a intenção que eu e o mano Miguel havemos de ser os últimos malcriados da família Bragança.” A Educação de seus filhos era prioridade. Segundo o historiador Paulo Rezzutti, o menino era preparado e lembrado constantemente pelo Imperador de seu futuro. Em 1827, o Marques de Gabriac, representante da França no Rio de Janeiro, em um de seus relatos, se surpreende com o príncipe, diz: “Tendo apenas 2 anos, corre, grita e compreende perfeitamente francês.”. Em março 1831, Dom Pedro I em carta ao seu filho, expressa felicidade ao saber que o mesmo já assina seu nome. Após sua partida, não esquece do filho, não o tratando como uma criança de 5 anos, e sim como “futuro imperador do Brasil”. Os assuntos tratados, em cartas, visavam sua educação, conversando sobre temas como liberalismo, política, geopolítica e outras questões pertencentes a Nação e ao seu futuro.  Fica evidente também o amor paterno, na qual o Paulo Rezzutti, em palestra, exclama que pouquíssimas vezes viu na literatura do período. Esse laço cria no príncipe um senso de responsabilidade, na qual ele levaria para vida. Esse sentimento é expressado em carta de 1833 para o pai, onde diz: “Novamente tenho a honra de rogar que Vossa Majestade lhe deite a sua benção e a continuação das suas estimadas cartas, para juntar as outras que tenho guardadas com particular cuidado, como verdadeiros guias para minha presente futura  vida.”

Francisca, Pedro e Januária de luto pela morte do pai c. 1835 por Félix Émile Taunay, no Museu Imperial.Francisca, Pedro e Januária de luto pela morte do pai c. 1835 por Félix Émile Taunay, no Museu Imperial.

Dom Pedro I percebia o potencial do Brasil e sabia que para se chegar a tal, o governante precisaria fazer um trabalho muito bem feito. Cabia ao seu filho essa tarefa e D. Pedro I queria que isso fosse seguido à risca, não se ausentando mesmo no exílio. Teria ficado muito feliz em saber que seus esforços deram muitos frutos, tendo em vista que D. Pedro II pode ser considerado o maior estadista que nossa Nação já teve a sua frente.

D. Pedro I foi um homem de seu tempo. Viveu as consequências da Revolução Francesa e das Guerras Napoleônicas, entendia que o mundo estava mudando sua perspectiva em relação às monarquias e que o absolutismo não tinha mais vez naqueles tempos estranhos, mas conseguiu entender tudo aquilo e, mesmo sendo um homem de paixões, de sangue quente e aventureiro, conciliou essa personalidade com as mudanças exigidas pela sociedade da época. Fez a Independência do Brasil, garantiu-a; tornou o Brasil um Império Constitucional, manteve Portugal como um Reino não absolutista e viveu uma vida curta, porém gloriosa!

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Ao deixar o trono brasileiro para seu filho, ao legar a Coroa que politicamente construiu, D. Pedro pode ser entendido como um visionário, um patriota que viu em uma terra, inicialmente tão distante da sua de nascença, o potencial para uma Nação imensa, rica e afortunada pela Natureza.

A Von Regium, amante da nossa Real História, como vocês vêm acompanhando a cada novo produto por nós lançado, não poderia deixar de lembrar em nossa coleção, deste momento tão icônico da trajetória deste Brasil: a abdicação de um grande líder; a ascensão de um grandioso monarca, que a História mundial seria ainda testemunha.

A Coroa nas mãos de D. Pedro, cuidando de longe da educação de seu filho e Imperador, é a nossa visão daquele momento. Imaginamos D. Pedro I segurando sua Coroa e vislumbrando que o potencial do Brasil só seria atingido com o esforço e dedicação de uma vida daquele Imperador Menino, do “Órfão da Nação”. Um destino pesado demais para uma criança, mas suportável para alguém que , por influência do pai, parece ter escolhido dedicar sua vida ao país que tanto amou. .

Referências:

Dom Pedro – A História Não Contada, Paulo Rezzutti, 2005

Professor Rodrigo Cavalcante Felipe, formado em História.

História Hoje

Na trilha das “garrafadas”: a abdicação de D. Pedro i e a afirmação da identidade nacional brasileira na Bahia -Análise Social, Daniel Afonso Silva, 2012

 

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