A simbologia é algo antigo quanto a própria civilização humana, ajudando na sua comunicação. Ela da vida ao imaginário, expressa fatos, crenças, ideias e mitos. Algumas dessas simbologias são tão profundas que, dentro de um determinado contexto histórico e cultural, abraçadas com ardor, alimentam o respeito e despertam a paixão do povo. É o caso do hino nacional, o hasteamento da bandeira, as cores de um país.
O dia do Rei, celebrado nos Países Baixos em comemoração ao aniversário do Rei Guilherme Alexandre, uma festa que simboliza a união dos Holandeses.
Nas monarquias o simbolismo é peça fundamental. É através do mesmo que a ideia de Nação é construída dando vida às tradições, cerimônias e liturgias, servindo de base para a criação do sentimento Nacional, além de forjar a pessoa do monarca, como, por exemplo, em sua coroação. Quando o mesmo é coroado ele deixa de ser quem é para ser a personificação do país, perde parte dos seus direitos particulares para viver uma vida de devoção pelo seu povo, chegando ao ponto de ser tradição escolher seu nome de monarca (após ascender ao cargo), pelo qual seu reinado será marcado .
Coroação de Dom Pedro I, tela de Jean Baptiste Debret. Acervo Artístico do Ministério das Relações Exteriores – Palácio Itamaraty.
No episódio 5 da 1ª temporada da série “The Crown”, quando da coroação da Rainha Elizabeth II, seu tio Eduard, vendo pela televisão a cerimônia, explicava para os presentes a importância da mesma para o Reino Unido. Dizia ele:
Edward – Óleos e juramentos. Orbes e cetros. Símbolo sobre símbolo. Uma rede insondável de mistérios arcanos e liturgia borrando tantas linhas que nenhum clérigo, historiador ou jurista jamais poderia desembaraçar.
-É loucura! – diz um dos presentes.
Edward – Pelo contrário. É perfeitamente são. Quem quer transparência quando se pode ter magia? Quem quer prosa quando se pode ter poesia? Se afastarmos o véu, o que resta? Uma jovem comum, de modestas capacidades e pouca imaginação. Mas se vesti-la assim. Ungi-la com óleo, pronto, o que você vê? Uma deusa.
O Império Brasileiro, assim como as monarquias pelo mundo, foi carregado de símbolos que davam vida à brasilidade da época, com a intenção de unir uma Nação recém-criada. Com certeza um dos símbolos mais presentes foi a Serpe dos Bragança. Acredita-se que a Serpe, como símbolo mitológico, surgiu de uma derivação do Dragão das legiões de Trajano no reino de Dácia em meados do século I constituindo uma das primeiras aparições como símbolo do país de Gales e do Reino de Wessex, sendo disseminado com diferentes significados.
À direita: Cetro da Coroa fabricado em 1828, acervo Palácio Nacional da Ajuda. à esquerda: A Serpe de Dácia presente na Coluna de Trajano em Roma, Itália.
A origem da Serpe dos Bragança é, ainda, um tanto nebulosa. Segundo D. Antônio Caetano de Souza, em seu livro intitulado “Historia genealógica da casa real Portugueza” de 1736, tem o seu início no reinado de Dom Afonso Henriques de Portugal. Foi em seu Reinado que o uso do grito de batalha em nome de São Jorge se tornou regra, substituindo o anterior Santiago Dom Nuno Álvares Pereira, nobre general português do Rei João I, considerava São Jorge o responsável pela vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota que consolidou João como rei de Portugal. O Rei João, era também um devoto do Santo, onde fez São Jorge como patrono de Portugal (hoje segundo padroeiro) em substituição a Santiago. Em homenagem ao novo padroeiro, Dom João I personificou o santo em seu escudo de armas em forma de serpe. Foi com Pedro II de Portugal,, terceiro rei da dinastia Bragança, que o animal mitológico passou a ser usado em seu brasão de família, perdurando até hoje como símbolo dos Bragança e, portanto, presente na simbologia nacional brasileira, representada em diversas jóias e objetos, como por exemplo, no cetro no traje e no trono imperial de Dom Pedro II.
À esquerda: Brasão de Armas . À direita Dom João I, de Portugal presente no livro de Dom Antônio de Costa.
Brasão da Família Bragança (ao centro) de José I e Portugal (à esquerda), instituído por Pedro II de Portugal (à direita).
Os tronos dos monarcas geraram, ao longo da História, diversos sentimentos como respeito, inveja, admiração e lealdade. Sempre que se constatou, na História do Brasil, um trono vazio, a trajetória da nossa pátria esteve em apuros. Tomemos, por exemplo, o Período Regencial (1831 – 1840), quando, pela ausência de um Imperador no trono, diversas rebeliões aconteceram em várias províncias de todas as regiões do Império. O fato foi tão grave, que alguns políticos da época fundaram o Clube da Maioridade, pois acreditavam que ao antecipar a maioridade do jovem imperador, para que pudesse assumir o trono antes do tempo previsto (18 anos), as revoltas cessariam e o Brasil poderia se unir em torno de um mesmo Império novamente. É comum, portanto o trono do Imperador emanar imponência, uma vez que ele traz consigo grande parte da História de um país, tradições e cultura. A cadeira do pai ou até o lugar onde ele costumeiramente senta contém um sentimento diferente dos demais. Na simbologia, quando olhamos esses lugares tomamos conta das responsabilidades que aquele cargo representa, no respeito que temos pelos que estiveram ali e nos ensinamentos passados. É comum, portanto o trono do Imperador emanar imponência, uma vez que ele traz consigo grande parte da História de um país, tradições e culturas. Com o golpe da República, voltamos a um sentimento parecido com o período regencial, quando estamos diante de um povo dividido e sofrendo novamente as consequências da falta de um elemento unificador de nossa sociedade. Mais uma vez o trono está vazio.
Trono Imperial e Coroa Imperial pertencente a Dom Pedro II do Brasil, acervo Museu Imperial.
Dom Pedro II o deixou vago e lá, simbolicamente, permanece sua Coroa. A Serpe, como animal mitológico padroeiro da família, protege seu trono, à espera de um Herdeiro da dinastia para assumir seu lugar de direito como Imperador do Brasil. Carregue esse sentimento de esperança consigo, presente em nossa camiseta. Faça dela um símbolo de divulgação da História do Brasil, da nossa ancestralidade monárquica e do nosso futuro enquanto Nação.
Referências:
Sousa, D. Antonio Caetano de (1736). Historia Genealogica da Casa Real Portugueza: Tomo II. Lisboa: Joseph Antonio da Sylva.Brazil
(1890). Collecção das leis do Brazil de 1812. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.
McMurdo, Edward (1889). History of Portugal: Volume 3. London: S. Low, Marston, Searle, & Rivington.
Professor de História Rodrigo Cavalcante Felipe.
A importância dos símbolos na vida e na cultura dos povos. Frei Moser.
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